Todas as cartas: as revoluções político-culturais silenciosas de Clarice Lispector

Abstract

O presente trabalho explora as cartas remetidas por Clarice Lispector, publicadas em Todas as Cartas, com o objetivo de compreender como essas correspondências, remetidas entre as décadas de 40 e 70, revelam aspectos pessoais, culturais e políticos de sua vida. A pesquisa investiga os posicionamentos, diretos ou implícitos, da escritora diante das questões sociopolíticas e culturais do Brasil, em especial durante os períodos de repressão e censura, como o Estado Novo e a Ditadura Militar. A análise evidencia que as missivas vão além de reflexões íntimas e familiares, apresentando também nuances de resistência subjetiva às imposições da época. Dividida em três capítulos, a pesquisa se inicia com uma abordagem biográfica, destacando a construção da identidade de Clarice como escritora brasileira, apesar de suas raízes estrangeiras. O segundo capítulo analisa o contexto histórico-político do Brasil, enfatizando os desafios culturais enfrentados por intelectuais e artistas. Por fim, o terceiro capítulo investiga as cartas como expressão das “revoluções silenciosas” de Clarice, revelando reflexões sobre família, sociedade e literatura. Com base nessa análise das cartas e da construção da pesquisa, conclui-se que as cartas de Clarice Lispector são fontes valiosas para a compreensão de sua vida pessoal e pública, bem como de sua visão crítica diante dos cenários culturais e políticos de sua época. Mesmo em um contexto limitado pela sua ligação diplomática, suas correspondências demonstram uma resistência sutil e coerente, travando batalhas silenciosas contra as desigualdades e limitações impostas ao longo de sua trajetória pessoal e profissional.