Prevalência de medicamentos potencialmente inapropriados segundo os critérios de Beers 2019 em pacientes idosos internados na unidade do sistema cardiovascular de um hospital universitário

Abstract

A população idosa pode ser considerada frágil e muito propensa a problemas com medicamentos, uma vez que estão mais suscetíveis a doenças e condições crônicas, pois com o avanço da idade acontecem mudanças no organismo que interferem na farmacocinética e farmacodinâmica de medicamentos. A seleção de medicamentos apropriados para esta população pode ser um processo complexo e desafiador, pois uma prescrição inadequada pode aumentar os riscos à saúde destes indivíduos. Medicamento potencialmente inapropriado (MPI) é aquele cujo risco de um evento adverso supera seu benefício clínico, especialmente quando há uma alternativa terapêutica mais segura ou efetiva para a condição clínica do paciente. Desenvolvido nos Estados Unidos em 1991 por Mark Beers, desde 2011 atualizado a cada três anos pela Sociedade Americana de Geriatria, o critério de Beers é uma ferramenta utilizada para identificar MPIs em idosos e orientar profissionais de saúde quanto à prescrição de medicamentos para esta população. Diante do crescimento da população idosa e da preocupação com a utilização de MPIs este estudo teve como objetivo identificar a prevalência de MPIs nas primeiras e nas últimas prescrições de pacientes idosos internados em uma unidade do sistema cardiovascular de um hospital universitário e avaliar se há diferença significativa entre os fatores que influenciam o uso de MPIs em cada uma das prescrições, a fim de contribuir na terapia medicamentosa como uma ferramenta de orientação a todos os profissionais de saúde. Consiste em um estudo transversal realizado na Unidade do Sistema Cardiovascular do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (HUCAM/UFES) na cidade brasileira de Vitória. Os critérios de inclusão foram pacientes com idade igual ou superior a 60 anos, internados entre o período de 01 de janeiro de 2018 a 31 de dezembro de 2019. Foram coletados dados socioeconômicos, demográficos, clínicos e relacionados à farmacoterapia através de consulta a prontuários eletrônicos dos pacientes. Todos os medicamentos da primeira e da última prescrição durante o período de internação foram classificados segundo a classificação ATC e a prevalência de MPIs foi avaliada segundo os Critérios de Beers de 2019. A prevalência de MIPs foi calculada de acordo com a equação prev = i nt . Foi utilizada regressão logística para verificar a relação entre as variáveis. A associação entre os MIPs prescritos e as variáveis independentes foi analisada por odds ratio. Um total de 371 pacientes foram incluídos no estudo e foram prescritos 3554 medicamentos nas primeiras prescrições, um média de 10,00 por paciente e 3829 medicamentos nas últimas prescrições, com uma média de 10,00 por paciente. Observou-se que 277 (74,66%) 10 pacientes fizeram uso de MPIs segundo os critérios de Beers 2019 em pelo menos uma das prescrições. A insulina foi o MPI mais frequente nas primeiras prescrições (257; 69,46%), seguido da amiodarona (36; 9,72%) e do clonazepam (30; 8,11%). Nas últimas prescrições a insulina também foi o MPI mais frequente (242; 62,05%), seguido do clonazepam (58; 14,87%) e da amiodarona (46; 11,79%). Um elevado número de pacientes idosos hospitalizados na Unidade do Sistema Cardiovascular do HUCAM/UFES apresentou a prescrição de pelo menos um MPI durante o período de internação. A variável MPI apresentou correlação com as variáveis sexo masculino na primeira prescrição (ρ valor = 0,0003; OR =0,3867; IC = 0,23 ≤ μ ≤ 0,65) e polifarmácia nas primeiras (ρ valor = 0,0001; OR =13,3659; IC 3,68 ≤ μ ≤ 48,51) e nas últimas (ρ valor = 0,0085; OR = 5,0068; IC 1,51 ≤ μ ≤ 16,61) prescrições. Este estudo encontrou prevalência de pelo menos um MPI em 277 (74,66%) das primeiras e em 251 (67,55%) das últimas prescrições durante a internação. Também foi observada correlação positiva entre polifarmácia e MPIs em ambas as prescrições, com maior incidência de PIMs quando a polifarmácia estava presente.